sábado, 16 de novembro de 2013

Inquietude

     Quero comer algo que não sei qual o sabor...
     Aqui num dia em que seria melhor não ter saído de casa
ou ter levantado da cama, vejo o tempo escoar pelas paredes.
     Uma brisa quente sopra a melancolia sobre mim, depois de uma noite mal dormida, trazendo uma sensação de falta, de carência.
     O que faz alguém escolher a solidão é um mistério. Talvez um desejo de sentir-se livre... o temor de machucar-se, por conta de atitudes de outras pessoas.  Mesmo sabendo que a solidão por si só, pode machucar ainda mais, tanto quanto qualquer decepção.
     Talvez eu passe a noite com a cabeça nas nuvens, no travesseiro, em pernas quentes e formosas ou recostada num canto, pensativo em prantos, soluçando sem motivo como uma criança birrenta... sim! Ainda sou apenas uma criança que não encontrou uma direção, que deseja mais que uma noite divertida, que deseja que a chuva cesse, para apenas sorrir nas tardes de verão...

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Falta

Me falta sua voz,
sua presença...
Sinto que o tempo
corre contra nós,
sinto uma conspiração
formando-se nos bastidores.
Penso nos seus beijos,
no seu corpo...
me perco em pensamentos
e conversas que nunca tivemos...
Sinto-me como se olhasse agora
em seus olhos. Mergulhado em ti,
sentindo o frescor do seu sorriso
próximo ao meu rosto... tantas coisas acontecendo, contratempos, desencontros...
Mas ainda sim estou certo de que uma vez mais
estaremos juntos, sorrindo, falando, beijando,
sentindo, nos conhecendo ainda mais...
ainda não tive o suficiente e acredito que nunca terei,
mesmo que eu me embriague em seus beijos,
me afogue em seu corpo, me perca em seu sorriso.
Ainda sim acredito que não será o suficiente para mim,
ou para nós. Assim como o eclipse não é suficiente
para o sol e a lua...

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Rotação

     Tantas voltas dá o mundo,
tantas luas desapercebidas, o pôr-do-sol perfeito
que foi perdido, nos desencontros
e encontros da vida. As surpresas aparecem, tirando o chão,
tirando o sono, causando temor... como relógio que para o trabalho,
inerte e insensato, fazendo o tempo despencar na penumbra da madrugada.
     E mais voltas dá o mundo, encontros que viram desencontros e vice-versa...
As surpresas aparecem, tirando o chão, tirando o sono, causando temor,
trazendo emoção, aquecendo a alma... o relógio retoma seu curso, apressado,
atrasado, voando pra alcançar o tempo perdido, acelerando em sua direção.
Seguindo seu perfume, da partida no ultimo abraço, que ficou em minhas roupas,
buscando o seu corpo, desde que o tempo parou...

sábado, 31 de agosto de 2013

Roda gigante

Da vida, escolhi a dor,
o amor, o sofrer...
Vivo, sinto e temo.
À cada escolha, uma alegria,
uma tristeza, uma pessoa, muitas delas.
Escolhi viver, sorrir, escolhi você,
escolhi chorar, escolhi o meu eu,
a solidão, sua companhia terna,
escolhi fazer, deixar pra lá, pensar,
esquecer, escolhi o melhor, estar só...
Optei pelo silêncio, pela lua que contemplo sozinho,
esperando o mundo girar, esperando você passar por aqui...

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Uma dose de lua

     Numa fonte distante, água pura e cristalina.
Eu a bebi e saciei minha sede, mas não pude guardá-la
em minhas mãos. Escorreu pelos dedos, mesmo eu tentando
segurá-la. Quis partir de volta a fonte, caindo
de minhas mãos ao solo.
     Pergunto-me se retornou às pedras,
de onde jorrava abundante...
     Olhei a lua, vi um céu límpido e estrelado.
Algumas nuvens perdidas, engolidas pelas estrelas infindáveis,
dominantes, que a vigiam e a protegem,
em noites claras, nas luas grandes. Na verdade,
encantei-me com a lua, quando procurava nuvens.
Olhei pro céu, pensando na chuva, em poucas gotas
que saciassem minha sede, lavassem minha alma...
Mas lá estava ela, como um sol adormecido a brilhar
no céu noturno. Convidativa, apaixonante, quase sorridente.
     Há muito tempo não me sentia só, vazio...
sempre estive assim e como pude não perceber?
Não posso dizer isso com certeza. Tantas coisas pra pensar,
pra fazer, tantas mudanças e incertezas. Estive perdido, estou ainda... Vertendo vidro dos olhos,
rumo a cegueira implacável, absorto à esperar
a chuva, pois já não há caminhos que me levem à fonte... Mas tenho a lua uma noite ou outra,
onde me banho em luz, onde bebe o meu coração, tentando esquecer.
Uma vez mais ressacado de você...  

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Coração gelado

     Suas palavras, antes aladas,
chegavam inesperadas, transbordando conforto...
     Palavras que surgiam calorosas, aquecendo meu peito,
minha alma, meu corpo. Palavras que alcançaram tamanho e presença.
     O som dessas palavras vibrou aqui e pude ouvi-las. Passaram e suprimiram qualquer ruído,
deixando um eco quase inaudível... dissiparam-se no ar.
     Foram-se trazendo inverno, como as flores que murcham
e não mais perfumam. Veio a neblina.
     Meu horizonte encurtou-se, a garoa e o vento
encolheu-me. O frio tomou conta de mim. Inércia.

     As cinzas caem sobre o lençol, meus olhos acompanham a queda.
Uma fumaça tímida se eleva e devaneio... Apenas observo e repouso minha face na superfície gélida, imaginando formas, objetos, pessoas... admiráveis, repugnantes, indiferentes. Fantasmas moldados
em acidentes geográficos.
     Uma imagem congelada... pela temperatura. Do
tempo, do corpo, da alma...

terça-feira, 23 de julho de 2013

Noite fria

     A neblina esconde o caminho,
o frio congela o peito. Às vezes a lua aparece
como mancha luminosa no céu, às vezes...
     Me falta o sono, me sobram pensamentos,
o silêncio ecoa gélido levado pela brisa fria.
     Pelos becos e vielas, uma densa neblina...
ora o vento assovia na rua, outrora na esquina,
uma melodia fúnebre aos desabrigados e aflitos,
sem abrigo, ou amparo.
     Eu vim de lá fechando os bares... um último gole,
último trago... sobre o asfalto molhado e escorragadio,
contando os passos, tocando os bolsos vazios,
desamparado,
desabrigado...

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Jornada

     Perdido entre as estrelas,
vagando sem me dar conta da direção,
vim parar aqui.
     Uma pedra errante
vagando sem rumo.
Eu, que do céu caí
como um anjo,
uma pedra diferente,
indistinguível das demais,
só mais um demônio
em meio à muitos outros...
     Sentada como qualquer outra pedra,
sem nada saber,
observando.
Matando tempo
e contemplando o horizonte,
as ruínas que me cercam.
     Muda e solitária,
uma pedra que certa vez,
uma criança desenhou um sorriso.
     Chutada daqui para lá,
ora para frente,
ora para trás. Contra
minha vontade,
deslocando-se para o nada,
rolando morro abaixo,
sem ter em que se agarrar,
jogada contra um inimigo,
desprezível, um animal indefeso...
     Mais que uma pedra.
Uma arma,
um calço,
um peso.
Com o pensamento
que um dia
as pedras se encontram,
presa numa tentativa de conforto.
     Sinto-me como se não fosse daqui,
que talvez seja um metorito,
desapercebido por não ser
nada mais que uma pedra,
no caminho
ou no sapato,
sem noção do tempo
ou do espaço.
Desgastando-se à cada lua,
cada sol,
à cada luto,
cada pingo de chuva,
encolhendo...
sentindo-se longe
de ser preciosa,
esculpida ou lapidada.
     Somente uma pedra
perdida em uma ruína qualquer,
uma remota lembrança caótica,
alicerce do nada,
à espera do dia de reduzir-se à pó,
reduzida à grãos minúsculos,
que flutuarão pelos ares,
tentado voltar para casa...

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Cai 
incessante 
a água, 
inconstante 
do céu 
sem cor. 
Nuvens sem vida 
choram, 
molhando os 
tijolos que erguemos, 
lavam nossas 
almas, 
derrubam nossas casas... 
encharcam nossas asas. 
Cai a noite, 
atropelando o dia, 
antecipada. 
Chove. 
Incessante agonia. 
Luz forte. 
Um clarão. 
Estrondo. 
     R
    a
       i
    o.
Fogo na mata...

sábado, 11 de maio de 2013

Embaixo da cama

De onde vem a inquietude mora minha incerteza,
procurando razões e sentimentos,
sentido,
qualquer coisa que eu sinta e me explique de onde vem o medo.
Ora é cedo, ora tarde.
Me sinto feliz e me entristeço,
sorrio perdido em meio a indiferença do peito.
Me sinto mal e quero gritar,
mas acabo gargalhando insano e enxugo minhas lágrimas,
amargurado me deito,
sem saber... que ainda é cedo,
que talvez eu seja ou esteja vazio,
que sou bruto, mesmo sendo gentil
e frágil tentando ser forte,
procurando a sorte e
me esquivando da morte.
Um vampiro sedento,
um monstro horrível e
no fim, apenas uma criança com medo,
mutilado e dilacerado
pela incerteza do amanhã...

sábado, 4 de maio de 2013

Olhei no espelho e não me vi.
Não reconheci o homem à minha frente,
pensei nunca tê-lo visto.
Ele me sorriu
como se me conhecesse,
acredito ter retribuído o sorriso para o homem cansado.
Nos viramos e partimos
rumo aos nossos destinos e
ao me virar notei que
caminhava e também me olhava.
Havia algo muito familiar naquele homem estranho.
Mais tarde
voltei ao espelho e
recordei-me dos olhos insanos do velho homem.
Meu cão me puxava a calça
querendo brincar.
Abaixei-me e lhe acariciei o dorso
e ao voltar-me ao espelho,
lá estava o homem.
Ainda mais estranho,
ainda mais insano,
e a navalha em sua mão brilhava, criando um temor horrível em meu peito.
Nos encaramos por um momento e
num só movimento, lançou a navalha em minha face.
Olhei no espelho e relutei em acreditar.
A navalha moveu-se rápido.
O homem estranho sumiu.
Um menino surgiu e sorriu.
Lembrei-me da infância querida,
da aurora de outrora,
dum tempo distante de mim e
minha alma...
Lavei meu rosto e olhei no espelho;
lembrei-me do homem, vi o menino,
parti em passos lentos
apoiado em minha begala, com a mão
trêmula e enrugada.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Um último suspiro

Um amor que não mais transpira,
caminha moribundo,
se vira.
Num grito mudo,
quase não respira.

A flor que naga o pólen,
fruta seca sem néctar,
jardim de urtiga jovem,
um santo sem altar,
amas que revivem e morrem.

Quando da face escorre o pranto,
o coração num nó se aperta,
olhos sem brilho ou encanto,
solidão tem presença certa,
se a boca cala o canto.

Não há certo ou errado,
uma faca de dois gumes;
amar só, não é amar ou ser amado,
não há desejo ou ciúmes
se o amor está acabado.

sábado, 27 de abril de 2013

Esperança

Estou de olhos fechados.
Sinto um grande temor.
Não há fome,
não há riso,
não há vontade alguma...
Pensei ter recebido uma visita,
mas a morte veio e foi-se sem sequer me olhar.
Mal pude velar o defunto. Foi-se a esperança,
alva e bela no seu caixão,
deixando o perfume das flores brancas que não sei o nome...

Não sei bem ao certo o que sinto,
nesse momento nada sei,
olho as horas e sorrio pra uma criança que passa saltitante,
tudo é indiferente.

Agora tudo que quero é deitar-me e sonhar.
Nos meus sonhos, não sou só.
Sou forte, sou herói,
sou galã.
Veículos possantes e velozes me conduzem,
em meio à amigos
e desconhecidos,
pessoas que amo e repudio,
voando longe dos olhos alheios,
sendo e estando, oque eu quizer,
onde eu quizer.
Eu odeio, amo, temo e nada sinto
e mesmo nos mais aterradores pesadelos,
posso ouvi-la cantar,
pois dentro de mim
a esperança ainda vive.

R.E.M.

     Vejo os vestígios de um devaneio que veio e se foi diante da névoa que se espalha ao longe. Fecho os olhos, porém ainda estou acordado. Adormeço e encontro meus temores, enterrados em mim com lápides lisas, sem nomes, sem fotos...
     Acordado, sonho com o céu em que posso voar e abro meu coração sem medo da ventania, e com dificuldade tento olhar para esse céu onde meus sonhos voam soltos. Me pergunto se minha voz alcança sequer o sonho mais próximo. Você pode me ouvir?
     Fecho os olhos e ainda vejo eles voando pelo céu azul, ouço uma canção e todos os demais sons desaparecem. Ouço o silêncio cantar ao meu ouvido, ecoando pelo céu vazio, sem nuvens. Uma canção que me diz que posso voar, para abrir o coração, para eu fechar os olhos e dormir, que eu sonhe e não tema os pesadelos ou a névoa, para eu gritar do meu interior, para que minha voz possa me alcançar...

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Drunk (Num boteco qualquer)

Eu não bebo por vício,
Não bebo por nada,
Bebo porque no fundo do copo
Vejo o rosto da minha amada
E se eu não beber tudo,
Mato ela afogada...

                                                                 (Anônimo)

segunda-feira, 25 de março de 2013

Trevas

     Impossível seria não ser insano, em meio à esta selva petrificada... selva esta que, tudo que aqui vive petrifica. Selva de muitas pedras, costumes, loucuras, belas mulheres, paixões ardentes, grandes amores...
     Em meio a insanidade contida em cada passo e ato, por mais visionário que possa se o homem, não poderia recriar tão bela obra: a noite.
     Nela, muitos recarregam-se, dormem, trabalham, deleitam-se em êxtase, amam, vivem... e a escuridão é assim... misteriosa, oculta, apaixonante, perpétua, obscura, apavorante, linda. E como é linda! Como pode ser tão misteriosa assim?!
     Infelizmente posso ser retirado da escuridão inebriante da noite, pelo sol, mas ela mesmo em pleno dia, ninguém retira de mim...

sábado, 23 de março de 2013

Aposte!

Perder...
ganhar... somente na perda
vitória há.
Conquistar é perder
o desejo de conquistar.
Se fácil... disperdício;
suado...
mérito,
sabendo que fácil irá
como veio,
ganhando
ou perdendo,
será vitorioso; ganhando
um novo anseio mutado
em desejo
de uma vez mais
lutar
e
viver o dilema
de perder
ou ganhar...

No silêncio da noite

     Solitária é a noite
e melancólico seu luar...
Molha - a chuva incessante - como lágrima mórbida
que despenca, do tempo
obstante.
     Uma ausência, que torna deserto
o peito solitário;
que pequeno continua
quase que
                                                                                                         perdido.

Song for the Death

     Uma canção ecoa lá fora, outra aqui dentro. Uma sinfonia de início de outono orquestrada em meu peito,  regida pelas lembranças perdidas em minha alma. E ouço essa melodia, resgatando uma última chuva de algum verão passado.
     Lá fora o telhado produz o rufar de mil tambores, enquanto o vento sopra as flautas e clarinetes. Água, vento, raios...
     Aqui dentro a melodia fúnebre, com um canto que não posso ouvir, distante... sou agora um auto-falante, a própria canção, o artista, sou tudo e nada, criador de uma sinfonia desritimada. Meu corpo vibra, sopra, pinga, bate descompassado e ainda sim ouço ao longe a voz da melodia dentro de mim, lutando para sair, nem sei ao certo se é dentro ou fora. Um sussurro talvez...
     No rádio uma canção, pensei ser nossa música. Mas sequer prestei atenção. Aqui dentro aumentou o barulho. Fora, meu corpo agitado transforma o som em algo primitivamente barulhento e banhado em suor e lágrimas, tento não ouvir meu corpo, dentro ou fora. Pois em minha mente agora ecoa a nossa canção, aquela que evito ouvir, perdida no passado, esquecida num verão qualquer...