sexta-feira, 24 de abril de 2015

Um novo dia

     Quando algo nos aflige,
quando nosso peito é tomado por
um temor desconhecido, sentimos
o corpo comprimindo-se. Os ossos
estalam-se uns contra os outros,
rumo ao vazio infindável. E quanto mais
aperto o peito, maior torna-se o oco.
     Cada um lida com isso de diferente maneira.
Eu particularmente escrevo. O cheiro da tinta
no papel, leva-me à um passado distante,
numa época sem dia ou noite, sem relógios
nas paredes... apenas um tempo em que
os sorrisos não eram apenas sorrisos fáceis.
Havia verdades nesses sorrisos.
     Um período sem preocupações,
até porque não se contava o tempo,
por não ser importante... Haviam
apenas momentos. E sei que não voltarão,
essas emoções que existem somente
em lembranças.
     Talvez seja essa a origem desse vazio.
Essa sensação de que algo nos falta. Pois
quanto mais vivemos, mais e mais perdemos
e tudo que ganhamos às custas de nossas perdas,
deixam dúvidas perpétuas em nossas almas.
     Me pergunto diariamente se valeu à pena
essas substituições, o velho dando lugar ao novo.
Penso nas pessoas com quem convivo
e naquelas que jamais verei outra vez. Penso na morte
como a esposa derradeira, com a qual ei de unir-me
do meu fim para resto da eternidade, num compromisso
que jamais terei em vida.
     Na verdade não sei ao certo descrever minhas
reais emoções, ou como há de findar-se
minha existência. Sei apenas que não é cedo
o suficiente pra eu comemorar e nem
tarde demais para que eu desista. Pois,
enquanto houver um novo amanhecer,
haverá esperança... e a cada dia,
haverá uma nova chance...

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