vagando sem me dar conta da direção,
vim parar aqui.

vagando sem rumo.
Eu, que do céu caí
como um anjo,
uma pedra diferente,
indistinguível das demais,
só mais um demônio
em meio à muitos outros...
Sentada como qualquer outra pedra,
sem nada saber,
observando.
Matando tempo
e contemplando o horizonte,
as ruínas que me cercam.
Muda e solitária,
uma pedra que certa vez,
uma criança desenhou um sorriso.
Chutada daqui para lá,
ora para frente,
ora para trás. Contra
minha vontade,
deslocando-se para o nada,
rolando morro abaixo,
sem ter em que se agarrar,
jogada contra um inimigo,
desprezível, um animal indefeso...
Mais que uma pedra.
Uma arma,
um calço,
um peso.
Com o pensamento
que um dia
as pedras se encontram,
presa numa tentativa de conforto.
Sinto-me como se não fosse daqui,
que talvez seja um metorito,
desapercebido por não ser
nada mais que uma pedra,
no caminho
ou no sapato,
sem noção do tempo
ou do espaço.
Desgastando-se à cada lua,
cada sol,
à cada luto,
cada pingo de chuva,
encolhendo...
sentindo-se longe
de ser preciosa,
esculpida ou lapidada.
Somente uma pedra
perdida em uma ruína qualquer,
uma remota lembrança caótica,
alicerce do nada,
à espera do dia de reduzir-se à pó,
reduzida à grãos minúsculos,
que flutuarão pelos ares,
tentado voltar para casa...